*(No começo do século 20, houve uma moda entre os jovens, de viajarem a pé por campos e montes, com o objetivo de fortificar o corpo, a mente e se aproximarem da natureza. Esse movimento ganhou o nome de Wandervögel, que quer dizer ''aves migratórias'' em Alemão, título adotado pela seção de estudos da Universidade de Fukuoka e que deu nome a este acidente. NDT. rusmea.com)
Segue adaptação:
Acidentes envolvendo alpinistas e ursos pardos são raros, não alcançando nem 1% de mortes ou ferimentos.
A maioria dos acidentes se dão em caçadas, coletas ou pescarias, onde o indivíduo concentrado que está em alguma atividade, em lugares onde o som não se propaga muito bem devido a vegetação, de repente se encontra cara a cara com um urso. Nessas circunstâncias, o animal pode se sentir ameaçado, onde geralmente ele foge ou...Ataca. Porém, casos assim são bastante raros entre montanhistas.
No entanto, um urso que persiste em rondar um acampamento, fazendo vítimas como nesse caso, provocam um medo indescritível nas pessoas...
Nesta postagem, vamos tratar de analisar o caso, com base no relatório dos sobreviventes do grupo Wandervögel sobre o acidente:
O grupo Wandervögel da Universidade de Fukuoka, era integrado por 5 estudantes.
Kazutoshi Takesue (O líder - estudante de economia - 20 anos)
Shunji Taki (Sub-líder - estudante de direito - 22 anos)
Morio Kooroki (Estudante de engenharia - 19 anos)
Yoshiharu Nishii (Estudante de direito - 19 anos)
Yoshitaka Kawahara (Estudante de economia - 18 anos)
Monte Kamuiekuuchikaushi
O primeiro e o segundo ataque.
No dia 14 de julho de 1970, os 5 integrantes do grupo da Universidade de Fukuoka, adentraram a montanha Memuro ao norte, com a intensão de atravessarem as montanhas Hidaka.
Às 3 horas e 20 minutos da tarde do dia 25, eles decidem montar acampamento em uma grande depressão (Circo) chamada de Kyuu no sawa, no lado norte do monte Kamuiekuuchikaushi .
Após comerem, por volta da 16 horas quando todos se encontravam dentro da barraca, eis que avistam um urso a 6 ou 7 metros de onde estavam.
No início, o urso apenas olhava curioso, mas logo começou a remexer nas mochilas que estavam do lado de fora e a comer os mantimentos do grupo.
Assim que tiveram chance, os rapazes pegaram as mochilas e arrastaram para dentro da barraca.
Ao fazerem fogo, barulho com os talheres e ligarem o rádio, o urso foi embora após tensos 30 minutos. (Este foi considerado o primeiro ataque)
Por volta das 21 horas, os rapazes acordaram ao ouvirem a respiração do urso e este faz um rasgão na barraca do tamanho de um punho.
O grupo decide fazer turnos de vigilância com 2 pessoas, durante toda a noite. (Este foi o segundo ataque)
Local do acidente
O 'cabo de guerra'.
A vigília dura até as 3 horas da madrugada do dia 26 de julho.
Enquanto o grupo se preparava para levantar acampamento, por volta das 4 horas e 30 minutos, eis que o urso volta a se aproximar.
O animal tentou entrar na barraca e os rapazes então seguraram a armação e a lona, iniciando um verdadeiro 'cabo de guerra' com o urso que durou aproximadamente 5 minutos. Por fim, os estudantes levantaram a lona do lado contrário e fugiram em direção ao cume do monte, se distanciando uns 50 metros da fera. O urso derruba a barraca e ataca o conteúdo das mochilas, carregando-as uma a uma, até uma zona de arbustos e lá as esconde. (Este foi o terceiro ataque)
Sob a direção do líder Takesue, foi decidido que o sub-líder Taki e Kawahara deveriam descer a montanha e chamarem um caçador.
Às 7 horas da manhã, enquanto desciam, o sub-líder e seu companheiro encontram em Hachi no Sawa, uma área mais abaixo de Kyuu no sawa, um grupo de 18 integrantes da associação de amigos de Hokkaidake (Integrantes da universidade de Hokkai), e lhes solicitam apoio.
Os dois pegam emprestado do grupo, um fogareiro, comida, combustível, um mapa e tratam de voltar ao local onde haviam deixados os outros 3 companheiros.
Atacados ao entardecer
Às 13 horas do dia 26, na linha do cume de Kamuiekuuchikaushi, o grupo volta a se reunir com o retorno do sub-líder Taki e de Kawahara.
No mesmo local, eles encontram com um grupo da Universidade Tottori e outro grupo de estudantes da Escola Chuou Tetsudou (Escola central ferroviária, formava profissionais na área de transporte ferroviário. NDT. rusmea.com)
Às 15 horas, os grupos decidem montar acampamento próximo do cume do monte, ao avaliarem o local como seguro.
Por volta das 16 horas, o urso volta a aparecer.
Os garotos fogem e observam o animal por mais ou menos uma hora e meia.
Por volta das 18 horas, os 5 membros, decidem se agrupar na barraca do grupo da Universidade Tottori, em seguida os membros do grupo Wandervögel, tratam de descer o monte às pressas.
Por volta das 16 e 30, ao se afastarem uns 70 metros do cume, eles percebem então que estão sendo perseguidos pelo urso e todos correm ribanceira abaixo em pânico.
Nishii foi quem deu o alerta do ataque iminente e Kawahara foi a primeira vítima, sendo atacado pelas costas, logo após se esconder em um tronco de um pinheiro caído. Ele esbravejou e revidou como pôde, mas o líder Takesue conta que viu a Kawahara fugir em direção ao local do acampamento Tottori, arrastando uma perna machucada.
O líder Takesue se junta ao companheiro Taki e com apitos, convoca a todos para que se reúnam, mas apenas Nishii atende o chamado. Eles houvem a Kooroki responder, a uns 30 metros mais abaixo de onde estavam, mas não alcançam vê-lo e este, passa à noite sozinho vindo a ser descoberto mais tarde pelos seus pertences e por suas anotações, que ele sobreviveu até as 3 horas da tarde do seguinte dia 27.
Às 20 horas, o líder Takesue, Taki e Nisshii, decidem passar à noite no alto de uma rocha. Os integrantes do grupo de Tottori, prepararam duas fogueiras e soaram os apitos, na tentativa de afastar o urso, mas algum tempo depois, os membros do grupo Tottori desceram a montanha e foram embora.
Os pertences recuperados das vítimas
O último ataque
O dia 27, amanheceu com uma forte neblina.
Os 3 iniciam as atividades às 8 horas da manhã e logo ao descerem da rocha, eles dão de cara com o urso. O líder avança abrindo caminho para os seus companheiros, dando empurrões na fera e foge monte abaixo, sendo perseguido pelo urso, desaparecendo das vistas de Taki e Nishii.
O líder Takesue foi encontrado morto mais tarde.
Os 2 restantes decidem avançar evitando a depressão do monte, para onde se dirigiu o líder, chegando até a área de Hachi no Sawa e desceram o monte logo depois.
Às 13 horas, eles chegam até as obras de controle de erosão de uma represa e pedem um carro emprestado aos funcionários. Às 18 horas os 2 sobreviventes são abrigados na sucursal da polícia de Nakasatsunai.
A noite solitária (As anotações de Kooroki)
Na noite do dia 26, Kooroki havia se separado do resto do grupo e em meio a solidão e ao medo, ele deixou anotações do que aconteceu em um caderno. "Eu não fazia ideia do que acontecia lá embaixo.
Eu só ouvia os sons que o urso fazia.
Como não há nada que eu possa fazer, o jeito é aguentar aqui durante toda à noite..."
O caderno de Kooroki
Ele avistou as chamas da fogueira que o grupo de Tottori havia preparado e tentou se dirigir para lá, no entanto, o urso o encontra e Kooroki foge se abrigando no alto de um rochedo, de onde começa a atirar pedras no urso:
"Lancei pedras de 15 cm, mirando o nariz dele. Acertei. O urso se afastou, se sentou e ficou me observando. Eu pensei que seria devorado por ele...Decidi fugir o mais rápido que poderia conseguir."
Kooroki corre aos tombos, sem olhar para trás e finalmente alcança a barraca do seu acampamento, para constatar que não há ninguém mais lá.
"Não sei porquê, mas ao me fechar no saco de dormir, senti uma certa segurança e fiquei mais calmo. Pensei no resto do grupo, mas em uma situação como essa, realmente não há o que fazer. O som do vento e da vegetação me provocam um mal estar e não consigo dormir. Rezo para que o grupo Tottori e o grupo Wandervögel, consigam reportar o que aconteceu e que o resgate venha."
Ele se acalmou um pouco após comer na barraca, mas a situação não muda.
"Tenho a intuição de que o urso poderá aparecer, e novamente me fecho no saco de dormir. Queria voltar logo para Hakatta (Terra natal de Kooroki. NDT. rusmea.com)"
Frases que demonstram tristeza como essa, continuam nas anotações.
Às 7 horas da manhã, ele decide descer o monte, se veste e prepara um bolinho de arroz, mas logo ao sair:
"O urso está a uns 5 metros logo acima. Não tenho como sair agora e vou ficar aqui na barraca."
As letras tremidas escritas com traços desesperados, são interrompidas:
"Até às 15 horas...(Ilegível) Será que os outros membros já desceram a montanha? O grupo Tottori e o grupo Wandervögel conseguiram contatar ajuda? Quando virão me salvar? A insegurança é total e é assustadora..."
Kooroki foi atacado e morto na barraca.
No dia 29, o urso que atacou o grupo Wandervögel foi morto a tiros por 10 caçadores.
Seu estômago foi examinado e foi constatado que o animal não comeu a carne de suas vítimas, o que deu a entender na época, que supostamente o animal teria atacado apenas por pilhéria, com mais intenção de deliberadamente causar dano do que por se sentir ameaçado.
O exame constatou que era uma fêmea com 4 anos e que não havia acasalado ainda.
Ursos pardos procriam normalmente com 2 anos de idade.
Os caçadores que aniquilaram a ursa, provaram um pouco da sua carne, como manda o código da montanha.
Alterações no objetivo do ataque
Em 1985, 15 anos após o acidente, a associação dos ursos pardos, emitiu um relatório com base nos relatos dos montanhistas e dos caçadores envolvidos no caso.
No relatório, consta que o principal fator que gerou o ataque, teria sido o fato dos estudantes terem pego de volta as mochilas que a ursa havia mexido.
Do primeiro ao terceiro ataque, o animal não objetivava atacar as pessoas, mas sim, queria apenas a comida que estava nas mochilas, tanto que os estudantes não sentiram tanto medo nesses primeiros ataques.
Os casos em que ursos atacam, geralmente se resumem a proteger à sua cria, em encontros repentinos onde o animal se assusta e para defender a sua comida.
No caso do acidente, por mais que as mochilas fossem preciosas para os estudantes e eles as tenham pego de volta, uma vez que a ursa havia provado o que havia nelas, para os valores da ursa, eles haviam roubado dela o que já lhe pertencia.
Jornal da época com a notícia
As mochilas foram usurpadas pela ursa e recuperadas pelo grupo algumas vezes, até que as ações do animal começaram a se tornar mais ousadas, culminando em ataques diretos aos estudantes.
Sendo possível que aquele jogo de forças, a partir do terceiro ataque, (o "cabo de guerra" com a barraca), tenha modificado os valores na mente do animal, fazendo com que enxergasse os rapazes como ''obstáculos'' e portanto, ''inimigos'' e levando a ursa a se tornar então, uma persistente e feroz perseguidora.
Os cadáveres estavam mordidos e arranhados, estavam com o abdômen destripado e as coxas escavadas, porém, com base nos relatos e dissecação posterior do animal, parece evidente que a ursa não atacou com o objetivo de se alimentar.
Aparentemente, o acidente era inevitável em meio aos crescentes ataques do animal...
Mas nessa mesma reunião de 1985, consta que os habitantes locais comentaram que "os ursos pardos fogem com o barulho de rádio ou com gritos" e também foi comentado com base nos relatórios, que "os estudantes tiveram várias oportunidades de fugirem da fera". A conclusão do debate foi: "Se eles tivessem tomado a decisão de descerem o monte o quanto antes, ou se juntado a outro grupo, o acidente poderia ter sido evitado."
Jornal da época com a notícia
As mochilas foram usurpadas pela ursa e recuperadas pelo grupo algumas vezes, até que as ações do animal começaram a se tornar mais ousadas, culminando em ataques diretos aos estudantes.
Sendo possível que aquele jogo de forças, a partir do terceiro ataque, (o "cabo de guerra" com a barraca), tenha modificado os valores na mente do animal, fazendo com que enxergasse os rapazes como ''obstáculos'' e portanto, ''inimigos'' e levando a ursa a se tornar então, uma persistente e feroz perseguidora.
Os cadáveres estavam mordidos e arranhados, estavam com o abdômen destripado e as coxas escavadas, porém, com base nos relatos e dissecação posterior do animal, parece evidente que a ursa não atacou com o objetivo de se alimentar.
Aparentemente, o acidente era inevitável em meio aos crescentes ataques do animal...
Mas nessa mesma reunião de 1985, consta que os habitantes locais comentaram que "os ursos pardos fogem com o barulho de rádio ou com gritos" e também foi comentado com base nos relatórios, que "os estudantes tiveram várias oportunidades de fugirem da fera". A conclusão do debate foi: "Se eles tivessem tomado a decisão de descerem o monte o quanto antes, ou se juntado a outro grupo, o acidente poderia ter sido evitado."
Sobre o porquê de terem tomado outra decisão que não fosse fugirem o mais rápido possível, foi explanado com base no relatório que:
1- As mochilas continham dinheiro e outros objetos de valor imprescindíveis.
2- Eles pensaram em levar embora a barraca e as mochilas.
2- Eles pensaram em levar embora a barraca e as mochilas.
3- Eles não desceram imediatamente abandonando o equipamento, pois não acharam razoável com base no cronograma previsto e ainda porque não sabiam nada sobre ursos selvagens, capazes de atacar pessoas e portanto não sabiam do perigo que estavam correndo.
Na época, os grupos que estavam próximos do local, como o da universidade Hokkaigakuen e da universidade Obihiro, desceram de forma relativamente rápida, se resguardando de eventuais ataques, mas os grupos de Hokkaido, da escola Chuou Tetsudou e o grupo Wändervogel, deixaram para última hora a descida do monte.
Esses foram os pontos levantados que explicariam o caso e que servem até hoje, para evitar novos possíveis acidentes com ursos pardos na região.
A ursa foi empalhada (Imagem acima) e hoje se encontra em exposição no centro Satsunaigawa das montanhas Hidaka.
É de pasmar que todo esse incidente tenha sido causado por um animal tão pequeno.
Porém, há que se levar em conta que um cachorro Pit Bull de mesmo tamanho ou até menor, também pode matar.
Neste caso, esse pequeno animal, aniquilou 3 pessoas...
Vídeo de um trecho de um documentário do caso, com imagens das notícias da época em que mostram os sobreviventes Taki e Nishii, as equipes de resgate e caçadores:
Abrax
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